A Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), a partir de sua diretoria, manifesta a tristeza pelo falecimento do professor José Roberto Ferreira, nosso primeiro diretor-executivo (1964-1966). Um dos pioneiros no Brasil na luta pela educação médica, José Roberto Ferreira foi exemplo de cooperação, estabelecimento de conexões, valorização da experiência brasileira e, acima de tudo, compromisso com a formação e desenvolvimento de recursos humanos em saúde. Recebeu, em 2012, a Medalha do Mérito Educacional Abem 50 Anos, instituída para distinguir os professores que marcaram sua história e, em 2013, a Orden Francisco Hernández da Fepafem, oferecida àqueles que realizaram contribuições de grande significado para a educação médica nas Américas.
Sempre preocupado e olhando para o futuro, em 1982, o professor Ferreira era chefe da Divisão de Recursos Humanos e Pesquisa da OPAS/OMS, em Washington, D. C., e assim se manifestou na conferência de abertura do 20° Cobem:
“É necessário chamar a atenção para o fato de que a maioria de nossas Escolas, carece de uma clara definição do produto final que querem formar. Certamente, o primeiro parâmetro de qualidade teria que estar explicitado num marco de referência conceitual que tome em conta o contexto socioeconômico e político, a situação de saúde, os padrões de exercício profissional e a estrutura e normas de funcionamento dos serviços; não somente em função do estado atual, mas também, com um sentido prospectivo. Seria, ainda necessário estabelecer o perfil educacional do médico que se quer formar, com uma clara definição de suas funções e o estabelecimento dos níveis de competência que se requerem para o exercício das mesmas.”
Que suas palavras sejam semente de nossas ações, como as proferidas no prefácio do livro Educação Médica e Saúde – Possibilidades de Mudança, de Márcio José de Almeida, em 1999:
“O crescimento acentuado do aparelho formador em medicina nas três últimas décadas, sobretudo na América Latina e em particular no Brasil, foi acompanhado, obviamente, da expansão do número de professores e alunos que atuam nesse campo. Cabe indagar, entretanto, se tal expansão vem contribuindo para uma maior dedicação à causa da educação médica. Até que ponto esses atores vêm limitando-se às funções precípuas de transmissão de conhecimentos e aprendizagem, sem maior preocupação com os aspectos conceituais e metodológicos inerentes ao processo educativo e sua repercussão, a médio e longo prazos, na melhoria dos serviços de saúde e nas condições de vida da população(…).
(…) A implantação de modelos sociais mercenários, de solidariedade social zero e a privatização desenfreada, levou a que as universidades também perdessem o sentido social e a necessidade de identificarem-se com as prioridades dos povos que sustentam sua própria sobrevivência (…).
(…) Sem um compromisso dos governos e de uma clara definição por uma sociedade mais justa, não será possível resolver nem o problema da saúde, nem o da educação dos profissionais de saúde. Sem justiça social, mesmo existindo já claras linhas e diretivas para um progresso real, não é possível quebrar o círculo de ferro que impede, por já muitas décadas, os verdadeiros avanços na saúde(…).”
E que nossa Abem acolha sua sugestão e construa sempre a educação médica necessária ao nosso país, como registrado por ele no editorial de 50 anos da Abem:
“Aproveitamos esta oportunidade de um marco temporal significativo — como a comemoração de meio centenário da Associação — para sugerir a promoção de um movimento de conscientização acerca desta problemática, com o envolvimento de todas as escolas, das comunidades docentes, discentes e dos próprios serviços de saúde em cada localidade para analisar os fatores que favorecem ou dificultam a adoção de orientações que visam, por meio da formação profissional, a uma real melhoria do sistema de atenção à saúde.”
O nome do professor José Roberto Ferreira estará para sempre registrado, com gratidão e saudades, na memória e no coração da Associação Brasileira de Educação Médica.